sábado, 28 de julho de 2012

O que se crê no dogma da Imaculada Conceição?

Ave, cheia de Graça, o Senhor é contigo.

Todos sejam bem-vindos!

É com muita alegria que hoje estamos na quarta aula de Mariologia, dedicada a Imaculada Conceição da Virgem Santíssima e iremos estudar o Catecismo da Igreja Católica do número 490 a 493.

Mas antes, iremos nos localizar historicamente: este dogma foi definido em 1854 no dia 8 de dezembro pelo Papa Pio IX. E antes desse dogma ter sido definido, Pio IX fez uma consulta no episcopado do mundo inteiro. Ele consultou 603 bispos e desses 603 bispos, 546 responderam favoravelmente, dizendo para o Papa definir este dogma. É interessante vermos esta realidade: o episcopado do mundo inteiro foi consultado para esta definição e a maioria dos bispos foi favorável para a definição do mesmo. E depois disto o Papa definiu este dogma através de uma bula chamada: Ineffabilis Deus.


Para ser a Mãe do Salvador, Maria "foi enriquecida por Deus com dons dignos para tamanha função". No momento da Anunciação, o anjo Gabriel a saúda como “cheia de graça". Efetivamente, para poder dar o assentimento livre de sua fé ao anúncio de sua vocação era preciso que ela estivesse totalmente sob a moção da graça de Deus.

Ao longo dos séculos, a Igreja tomou consciência de que Maria, "cumulada de graça" por Deus, foi redimida desde a concepção. E isso que confessa o dogma da Imaculada Conceição, proclamado em 1854 pelo papa Pio IX. (CIC 490 e 491)


Você pode se perguntar: o que quer dizer Conceição? Vamos responder!

Conceição – esta palavra é uma forma antiga da língua portuguesa, para dizer: ‘’concepção’’, ‘’conceber’’, ou seja, o ato de conceber é aquele ato normal, físico em um espermatozóide fecunda o óvulo dentro do ventre de uma mulher. Todos nós tivemos uma conceição, todos nós fomos concebidos. Não é uma coisa exclusiva da Virgem Maria. Esta palavra é pouco usada. Ninguém fala da conceição de uma criança, então nós usamos a palavra concepção.

O que se crê no dogma da Imaculada Conceição?
Se crer que a Virgem Maria quando foi concebida no ventre de Sant’Ana, sua Mãe, ela foi concebida através de um ato sexual normal. Então, não vamos confundir a Imaculada Conceição de Nossa Senhora com a concepção Virginal de Jesus. São duas coisas diferentes. No ventre de Maria, Jesus foi concebido virginalmente, ou seja, sem que nenhum homem interviesse, através de um milagre. Já a Virgem Maria não: Ela não teve uma conceição virginal, pois Sant’Ana não era virgem. Do casamento de Sant’Ana e São Joaquim, a Virgem Maria foi concebida normalmente, através de uma relação sexual. Então nos perguntamos: o que há de diferente na concepção da Virgem Maria?

Assim nos ensina o Catecismo da Igreja Católica no número 491:

‘’A beatíssima Virgem Maria, no primeiro instante de sua Conceição, por singular graça e privilégio de Deus onipotente, em vista dos méritos de Jesus Cristo, Salvador do gênero humano foi preservada imune de toda mancha do pecado original.’’


Deus é onipotente. Ele pode tudo, inclusive dar uma graça especial à Virgem Maria, a escolhida entre todas as mulheres. Ela foi preservada do pecado original, o pecado de Adão e Eva, o pecado que manchou a nossa natureza e que por isso, dali para frente, todos os filhos de Adão e Eva nasceram manchados. Para fazer uma comparação, poderíamos dizer assim:

Vamos supor que uma pessoa ganhou na mega-sena, ganhou 50 milhões de reais. Ora, esta pessoa é rica. Então, por conseguinte, os filhos desta pessoa ficaram ricos. E vamos supor ainda que esta pessoa pegue este 50 milhões de reais e resolve gastar sem se dá conta que este dinheiro está acabando e assim de repente, a pessoa fica pobre. Bom, a pessoa era rica e os filhos dela também, pois estes filhos eram herdeiros deste dinheiro e agora, como a pessoa ficou pobre, os filhos também ficaram pobres.

E assim, algumas pessoas se perguntam se não é injusto que nós soframos as consequências de um pecado que não formos nós que realizamos e assim, essas pessoas não entendem a hereditariedade de certas coisas. A graça que Deus deu a Adão e Eva foi perdida e agora eles não tem esta graça para transmitir. Então, eles transmitem uma miséria, uma pobreza, uma desgraça. Então, é assim que nós nascemos: nascemos neste estado de desgraça, uma falta de graça. Isso é uma forma de olharmos para a transmissão do pecado original.

Mas há outra forma de explicar essa história da transmissão do pecado original que é o fato de que o pecado original é de fato, uma mancha. Essa palavra ‘’mancha’’ é uma outra metáfora. Então, veja só: nós estamos usando metáforas para explicar um mistério. Então, o que a bula do Bem-aventurado Papa Pio IX diz é que a Virgem Maria foi preservada da mancha. É evidente que isto é uma metáfora. Aqui, digamos a ideia que está é que uma pessoa que está manchada transmite para outra pessoa esta mancha e assim por diante. Porém, a Virgem Maria foi preservada desta mancha, é claro, que por uma intervenção Divina.

O que a bula está dizendo é que a Igreja Católica crê que Nossa Senhora foi preservada deste influxo, desta realidade da mancha. Ela deixou de receber uma coisa ruim. É como se dissesse que a água está contaminada e de todas as torneiras saem água contaminada, porém, uma torneira foi preservada da contaminação.

São metáforas para dizer: em Maria aconteceu algo especial, pois Deus interveio, como isso aconteceu, nós não sabemos, porém, sabemos que Deus é onipotente e assim Ele preservou Maria. A mancha do pecado original que nós temos, a Virgem Maria nasceu sem esta mancha, ela é Imaculada do jeito que Adão e Eva eram imaculados antes do pecado original. E só para ficar claro, é evidente que Jesus é Imaculado. Então, este é o núcleo daquilo que nós cremos neste dogma.

Para ser a Mãe do Salvador, Maria "foi enriquecida por Deus com dons dignos para tamanha função”. LG 56

Agora, nós entramos em algo que é difícil de entender: Maria foi salva, redimida.

E quem salvou a Virgem?
R: Quem salvou Maria foi Jesus.
Quando?
R: Quando morreu na Cruz.

Mas como assim? Maria foi redimida numa época em que Jesus ainda não tinha sido concebido, não tinha nascido e não tinha morrido na Cruz? Como é possível isto? Como é possível que Maria, lá no ventre de Sant’Ana, foi salva pelo Sangue que seu Filho derramaria?

Está entendendo a dificuldade intelectual? Mas é isso que o Papa diz na bula. É isto que nós cremos. Olha só:

‘’(...) em vista dos méritos de Jesus Cristo, Salvador do gênero humano foi preservada imune de toda mancha do pecado original’’.

Deus Pai, por singular graça e privilégio (coisa que só aconteceu com Maria), deu a Ela essa salvação tendo em vista dos méritos de Cristo. Mas como isso é possível?

É possível assim: Deus olha as coisas, fora do tempo. Então, Ele viu os méritos de Jesus e esse olhar do Pai – vendo os méritos de Jesus – preserva Maria.
Deus, que está fora do tempo, é capaz de realizar isso.
É claro que nossa cabeça tem dificuldade de entender como isso acontece.

Assim nos ensina o Catecismo da Igreja Católica:

‘’Esta ‘santidade resplandecente, absolutamente única’ da qual Maria é ‘enriquecida desde o primeiro instante de sua conceição lhe vem inteiramente de Cristo: ‘Em vista dos méritos de seu Filho, foi redimida de um modo mais sublime’. Mais do que qualquer outra pessoa criada, o Pai a ‘abençoou com toda a sorte de bênçãos espirituais, nos céus, em Cristo’ (Ef 1,3). Ele a ‘escolheu nele (Cristo), desde antes da fundação do mundo, para ser santa e imaculada em sua presença, no amor’ (Ef 1,4).
Os Padres da tradição oriental chamam a Mãe de Deus ‘a toda santa’ (‘Pan-hagia’; pronuncie ‘pan-haguía’), celebram-na como ‘imune de toda mancha de pecado, tendo sido plasmada pelo Espírito Santo, e formada como uma nova criatura’. Pela graça de Deus, Maria permaneceu pura de todo pecado pessoal ao longo de toda a sua vida. (CIC 492 e 493)

Aqui, é necessário fazer uma pequena digressão histórica que é o seguinte:

Durante séculos, principalmente na Idade Média, houve um debate muito forte e sério com relação a esta questão da Imaculada Conceição.

Pois na Idade Média, havia duas escolas teológicas: a escola teológica dominicana e a escola teológica franciscana, que eram as duas ordens que dominavam o universo teológico na Idade Média.

Os franciscanos eram grandes defensores da Imaculada Conceição e os dominicanos, por sua vez, eram duvidosos, eram contra a este dogma. Porém, a Igreja já acreditava na Imaculada Conceição, mas não havia sido definido.

Então, podemos refletir: o que quer dizer quando um Papa define um dogma? O que quer dizer quando o Papa proclamou este dogma em 1854?

Quer dizer o seguinte: a Igreja que sempre acreditou que Maria é Imaculada, permitiu durante alguns séculos, que alguns dos seus fiéis duvidassem disso, porque ainda não estava claro que isto era depósito da Fé, que isso era dogma, Tradição Apostólica. Então, havia gente que duvidava. Quando em 1854, o Papa definiu este dogma, quer dizer que agora acabou a briga e a discussão.

Vamos fazer uma comparação com a metáfora do depósito da Fé, para entendermos melhor o que está sendo dito, pois as vezes as pessoas dizem que a Igreja Católica começou a acreditar neste dogma a partir de 1854 e que Nossa Senhora só começou a ser Imaculada a partir deste ano. Mas, não é isso.

No ano de 1854, a Igreja definiu que Ela sempre acreditou nisto.

Vamos supor que a Igreja tenha um terço dentro de uma caixinha (um depósito) fechada e que Ela leva esta caixa com o terço lá dentro ao longo de sua caminhada, ao longo dos séculos. E assim podemos discutir se tem ou não o terço lá dentro, e assim alguns duvidam. Mas a Igreja sempre leva esta caixinha com o terço lá dentro, até um belo dia que o Papa abre a caixinha e diz para pararmos de discutir, pois o terço está lá e que assim, todos são obrigados a crer que o terço existe e sempre esteve dentro da caixa. Mas, antes, as pessoas duvidavam se a Igreja levava ou não.


Então, no depósito do Fé da Igreja, ou seja, as coisas que a Igreja sempre creu, sempre esteve lá dentro uma jóia preciosa chamada Imaculada Conceição da Virgem Maria. Mas se duvidava: ''Será que está lá? Será que não está?''. E o Papa, então, definiu: ''Está lá''. É isto que quer dizer a definição deste dogma: o Papa, junto com os bispos do mundo inteiro, analisa o que a Igreja crê ao longo de 2000 anos.
 

Então, nesta disputa entre os franciscanos e os dominicanos, é claro que os franciscanos saíram ganhando, pois o que eles sempre pregavam era o que a Igreja sempre creu, enquanto aquilo que os dominicanos pregavam não era exatamente o que a Igreja sempre creu.

Por isso, assim nos ensina o Catecismo:

‘’Todavia, embora a Revelação esteja terminada, não está explicitada por completo; caberá à fé cristã captar gradualmente todo o seu alcance ao longo dos séculos. ’’ (CIC 66)

Mas você vai se perguntar: Qual o fundamento para este dogma?
Veremos isto na próxima aula.

Até a próxima aula.

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