sábado, 8 de setembro de 2012

''Ave, cheia de Graça'' - (1ª parte)

Santa, Santa, Santa Maria, Mãe de Deus e Virgem!

Introdução
Como foi anunciado na última aula, hoje estudaremos em detalhes a saudação do Anjo Gabriel à Santíssima Virgem Maria, conforme se encontra no evangelho segundo São Lucas, no capítulo 1, versículo 28.

Como sabemos a Igreja ao longo dos séculos, foi tomando consciência de que na Saudação do Anjo à Maria está a prova de que Maria foi concebida sem o pecado original, pois a saúda como ‘’cumulada de graça’’ (Lucas 1, 28) – Kecharitomene –.
Vemos que a expressão – Kecharitomene – expressa que Ela SEMPRE esteve repleta de Graça, ou seja, que foi, que é e que sempre será cheia de Graça, então é evidente que Ela tem um coração imaculado (sem mácula).

Como vemos nas últimas aulas, Maria não tem pecado, pois foi salva antecipadamente por Cristo.
 
Cristo salvou Maria antecipadamente. Deus, em antecipação aos méritos conseguidos por Cristo, salvou, Maria já no ventre de Sua Mãe, livrando-a assim do pecado. E porque a livrou do pecado original? Pelos seus méritos? Obvio que não. Mas pelos de Cristo. Portanto, a Santíssima Virgem Maria realmente é salva por Cristo e não tem pecados. 

O anjo disse que Maria achou Graça diante de Deus. Ora achar graça, não é que Deus achou Maria Cômica, mas diz que Maria encontrou o que Eva Perdeu, a graça Santificante. Ou seja, a graça primeira. Para se achar a graça perdida por Eva, é preciso estar sem pecado.

Ora era conveniente a Deus livrar Maria do pecado, para que Cristo, pudesse nascer de um ventre Santo, sem manchas. 
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O que significa Kecharitomene?
Ora, ΚΕΧΑΡΙΤΩΜΕΝΗ significa plena, repleta, daquela Graça – CHARITOO – que "exprime a corrente de misericórdia divina, pela qual o homem é chamado, é salvo, é justificado". Maria estava já salva, remida do pecado original, justificada, por ocasião da saudação do anjo.

Anamarthtov significa "sem pecado, que não pode pecar". A palavra usada (ΚΕΧΑΡΙΤΩΜΕΝΗ) expressa muito bem o que o autor quis dizer, como já foi explicado. Se alguns hereges não entendem, é problema deles. A Bíblia não foi escrita para que todos a entendessem, mas para que a Igreja interpretasse.

Kecharitomene é mais conveniente do que anamarthtov no contexto, porque a ideia do autor é dizer que Maria esteve sempre repleta da Graça.
É importante frisar que Maria não tem pecado por causa da Graça Divina, e não por si própria.
Essa distinção não ficaria clara se fosse usada anamarthtov.
Em Jo 1, 14, para se referir a Jesus ('cheio de graça e de verdade'), é usado ΧΑΡΙΤΟΣ. Se o protestante fosse o editor da Bíblia, ia dizer que, dada a importância do fato (a própria Encarnação - importância maior que a Imaculada Conceição, pois esta deriva daquela), seria lógico, coerente, claro e cristalino João usar anamarthtov. Acontece que João não usa. 
 
Isso mostra claramente o descabimento da colocação protestante. A palavra Kecharitomene é desde os primórdios do Cristianismo interpretada como Gratia Plena.
Propositadamente São Lucas muda o Charitos Kai, usado em todos os outros casos, para usar o Kecharitomene. Que na construção Grega significa: kecharitomene: ke (redobro, marca do perfeito) + khari (graça teológica) + tomene (particípio).
Portanto Kecharitomene é uma forma reforçada de Charitos. É uma forma enfática, não diferente. Se diz que todos aqueles que são cheios de Graça estão em santidade e em graça santificante.

Os padres da Igreja ensinam que João Batista foi perdoado de seu pecado original, no ventre de sua mãe ao ouvir a saudação de Maria, pois ficou cheio do Espírito Santo, ninguém em pecado pode ficar cheio do Espírito Santo. (‘‘O Espírito Santo fugirá da alma perfídia’’ - Sabedoria 1, 5).

O significado de "KECHARITOMENE" é cheia de graça, de acordo com São Jerônimo, tradutor do texto grego. Pois a expressão foi traduzida como gratia plena. A mesma tradução foi usada no siríaco e apoiada por todos os Padres da Igreja. E - interessante! - a mesma tradução foi usada pelos protestantes de outrora! A famigerada tradução de Wycliff trazia "full of grace". O mesmo acontecendo com a tradução de Cranmer "KECHARITOMENE" é o particípio passado perfeito de "CHARITOO". 

Significa que a ação foi completada antes do tempo em que se fala. Significa propriedade, permanência


O outro verbo usado em Efésios 1, echaritosen, significa estado, momentaneidade. Analogicamente, é a diferença entre Zezinho é feliz (KECHARITOMENE) e Zezinho está feliz (ECHARITOSEN). Este indica algo transitório, deste momento, associado ao sujeito; enquanto aquele indica algo próprio, inerente ao sujeito. 


A ara que os protestantes mais cultos usam é uma tradução protestante (Almeida Revista Atualizada). Como você sustenta que a palavra original usada em Lc 1, 28 é "CHARITOO" e, para tanto, baseia-se numa tradução?

O Magistério reafirma que a palavra usada em Lc 1, 28 é KEKHARITÔMENÊ. Tem o mesmo radical de "CHARITOO" (óbvio), mas não é a mesma palavra. 
No google, digitando "Hail Mary Greek". Irá encontrar alguns sites que têm a oração "Ave Maria" em várias línguas. A versão em grego: "Chaire Maria, kechairetomene, ho Kurios meta su". E nesse Novo Testamento on-line ou nesse outro aqui o versículo 28 do primeiro capítulo de Lucas:

ΚΑΙ ΕΙΣΕΛΘΩΝ ΠΡΟΣ ΑΥΤΗΝ ΕΙΠΕΝ ΧΑΙΡΕ ΚΕΧΑΡΙΤΩΜΕΝΗ Ο ΚΥΡΙΟΣ ΜΕΤΑ ΣΟΥ.

A Vulgata de Jerônimo traduziu o termo grego para a expressão latina gratia plena.

Realmente: são só os católicos que usam esse termo. É claro que Maria não tinha a graça 'por si mesma'. A graça foi trazida por Jesus.


A questão é que Maria já tinha essa graça quando o anjo a saudou, e Jesus nem havia encarnado-Se ainda. Por isso que Ela perturbou-se ao ouvir essas palavras (cf Lc 1, 29).
 

E a graça salva o homem, justifica-o, apaga o pecado. Insisto na pergunta, cuja resposta é tão óbvia, mas os protestantes, nos debates, não respondem: ao ser saudada pelo anjo, Maria era ainda pecadora ou já não tinha a marca do pecado? O texto grego de Lucas 1, 28, traz a palavra KEKHARITÔMENÊ como saudação do anjo a Maria.
Esse é o termo utilizado na oração "Ave Maria" dos cristãos gregos. É o termo utilizado em todos os documentos eclesiásticos que falam sobre o assunto.

Acho que é porque nenhum deles viu ainda a edição protestante da Bíblia, já que algumas trazem CHARITOO. Sugiremos, então, que os protestantes mandem essa descoberta arqueológica aos estudiosos bíblicos. Ninguém chama "Noé" de "Imaculado Noé" porque o sentido de graça no Antigo Testamento é o de favor. Os justos do Velho Testamento aguardaram a consumação do Sacrifício de Cristo. Após o Calvário, Jesus desceu ao Hades para libertar os justos que O haviam precedido, e não alcançaram a plenitude dos tempos.

É o que significa o artigo do Credo: "Desceu à Mansão dos Mortos, ressuscitou ao Terceiro Dia". A questão teológica é a seguinte: Se graça "exprime a corrente de misericórdia divina, pela qual o homem é chamado, é salvo, é justificado" e Maria é chamada cheia de graça antes da Encarnação, então Maria estava justificada antes da Encarnação
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Objeção: Maria passou do pecado à graça quando acreditou na Palavra de Deus

Isso é uma simplificação protestante do problema na qual nem eles mesmos acreditam. É uma simplificação simplesmente porque, antes de ouvir a Palavra de Deus, anunciada pelo anjo, Maria já foi saudada como 'cheia de graça'. A Anunciação tem exatamente essa sequência: o anjo a saúda, depois anuncia-lhe o plano de Deus, depois ela diz 'sim'. Maria só disse "FIAT" depois de ouvir o anjo, e depois de ter sido chamada como 'cheia de graça'.

Sendo assim a interpretação protestante não se sustenta. Ainda que eles façam um malabarismo e a torne sustentável, acrescente-se a isso esse outro detalhe: é possível passar do pecado à graça antes do Sacrifício Vicário de Cristo? Veja as consequência da contra-argumentação: Maria, ao 'acreditar na Palavra de Deus', foi justificada. Portanto, Ela conseguiu o que todos os justos do Antigo Testamento não conseguiram: "E, no entanto, todos estes mártires da fé não conheceram a realização das promessas!" (Hb 11,39; leia o capítulo inteiro)

E Maria conseguiu isso antes do Calvário! Oras, se Maria conseguiu, antes da consumação do Sacrifício, aquilo pelo qual todos os justos de Israel estavam ainda esperando, Ela é infinitamente superior a todos os outros homens do Antigo ou do Novo Testamento.
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Objeção: A expressão 'cheia de graça' é usada também para Estevão

Sim, é. Só que existem dois detalhes.

O primeiro, é que não é o mesmo termo usado para Estevão e para Maria. Para o primeiro, é usado PLÊRÊS KHARITOS, ou PLÊRÊS PISTEÔS no texto bizantino; enquanto que, para Maria, é usado KEKHARITÔMENÊ. A expressão usada para Maria não se encontra em nenhum outro lugar. Mas esse é um detalhe pequeno. O detalhe importante é que Estevão é chamado de 'cheio de graça' após o Sacrifício de Cristo e seu batismo.

Qualquer teólogo de praia sabe que existe uma oposição entre pecado e graça. Sabe que, antes de Cristo, só havia graças temporárias, no sentido de 'favor', que os protestantes trazem do Velho Testamento. A graça plena, completa, só pôde ser obtida ao homem através do Sacrifício de Cristo.

É esse Sacrifício que paga o pecado do homem, santificando-o e justificando-o. E é esse o sentido da palavra no Novo Testamento. Após o Sacrifício do Calvário, sem o qual não há remissão dos pecados, Estevão acreditou e foi batizado. Portanto, teve os seus pecados apagados, e pôde receber a graça. E Maria? Ela é chamada de 'cheia de graça' antes do Sacrifício de Cristo, antes mesmo da Encarnação! É como se Ela já estivesse justificada ao saudar do Anjo.

Por isso, "perturbou-se ela com estas palavras e pôs-se a pensar no que significaria semelhante saudação". (Lc 1,29) Percebem o problema (insolúvel na 'teologia' protestante)? Maria, antes da Encarnação, já era gratia plena - kecharitomene. Antes do Espírito Santo a cobrir com Sua sombra, Maria já foi saudada como 'cheia de graça'. Oras, quando foi que Maria passou do pecado à plenitude da graça? Ao ouvir a voz do anjo? Quando tinha cinco anos? Quando nasceu? Quando foi concebida? A 'teologia' protestante não responde isso.
Simplesmente ignora.

Independente de qual seja a resposta, o fato Escriturístico é que, na Anunciação (e, portanto, antes da Encarnação), Maria já estava livre do pecado

"Entrando, o anjo disse-lhe: Ave, cheia de graça, o Senhor é contigo". (Lc 1,28) A expressão cheia de graça - gratia plena - já carrega em si o sentido de ausência de pecado. Por uma razão bem simples: não pode estar pleno da graça quem tem pecado. Pecado e graça não coexistem. Onde há a Graça, não há a desgraça do pecado.
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Um pequeno resumo

São Lucas usa o particípio perfeito passivo, kekaritomene, como seu “nome” para Maria. Esta palavra literalmente significa “ela que foi agraciada” em um sentido completo. Este adjetivo verbal, “agraciada”, não está apenas descrevendo uma simples ação do passado. O grego tem um outro tempo para isso. O tempo perfeito é usado para indicar que uma ação se completou no passado resultando num estado de ser presente. “Cheia de graça” é o nome de Maria. Então o que isso nos diz sobre Maria? Bem, a média cristã não está completa em graça e em um sentido permanente (ver Fl 3,8-12). Mas de acordo com o anjo, Maria está. Você e eu pecamos, não por causa da graça, mas por causa de uma falta de graça, ou uma falta de nossa cooperação com a graça em nossas vidas. Esta saudação do anjo é uma dica para o caráter único e chamativo da Mãe de Deus. Somente a Maria é dado o nome “cheia de graça” e no tempo perfeito, indicando que este estado permanente de Maria foi completo.

Portanto, Se a Virgem Santíssima é cheia, repleta de Graça, então, nela não há pecado.

Imagine um copo que está repleto de água, então, ele é ''cheio de água'' e, portanto não há mais nada neste copo, há não ser a água, assim sendo que se ele está repleto de água, não cabe mais nada dentro dele. Assim também com Maria: Ela é cheia, repleta de Graça, então, nela não há espaço para a desgraça do pecado, pois está repleta da Graça de Deus mesmo antes da Encarnação. Dentro dela não cabe a desgraça do pecado, já que está repleta da Graça. Não é meia, mas é cheia, repleta, por isso, Ela é ‘’toda bela e não há mancha nela’’ (Cântico dos Cânticos 4, 7).


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Até a próxima aula, onde continuaremos com o tema da Imaculada Conceição da Mãe de Deus.

2 comentários:

  1. Eu quero saber aonde está na Bíblia que as pessoas do Antigo Testamento não receberam a Graça em Plenitude!

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    1. Sobre os mortos do Antigo Testamento:

      1) Eles foram justificados no sentido de 'tornarem-se merecedores da Graça': "Abraão, nosso pai, não foi justificado pelas obras, oferecendo o seu filho Isaac sobre o altar?" (Tg 2,21)

      2) Contudo, não receberam a Graça, que só entrou no mundo com o Sacrifício de Cristo: "Se pelo pecado de um só homem reinou a morte (por esse único homem), muito mais aqueles que receberam a abundância da graça e o dom da justiça reinarão na vida por um só, que é Jesus Cristo!" (Rm 5,17)

      3) Como não haviam ainda recebido a Graça, ainda não haviam entrado na Bem-Aventurança celeste: "Ninguém subiu ao céu senão aquele que desceu do céu, o Filho do Homem que está no céu". (Jo 3,13). Por isso havia entre os judeus o conceito de Mansão dos Mortos, um 'lugar' onde os justos do AT 'esperavam' a redenção operada por Jesus.

      4) Após a morte do Calvário, Jesus foi até a Mansão dos Mortos pregar aos espíritos dos que morreram antes de Sua vinda: "É neste mesmo espírito que ele foi pregar aos espíritos que eram detidos no cárcere, àqueles que outrora, nos dias de Noé, tinham sido rebeldes" (1Pd 3,19)

      MARIA ANTES DO SACRIFÍCIO DE CRISTO, JÁ É CHEIA DE GRAÇA! É IMPRESSIONANTE, MAS MARIA TEM A GRAÇA EM PLENITUDE ANTES DE SEU FILHO MORRER NA CRUZ (LUCAS 1, 28)!

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